quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Coisas que a Bíblia não diz



O teólogo que se preza sabe que a sua fonte primacial de autoridade é a Bíblia, a Palavra de Deus (Gl 1.8; 1 Co 4.6; 15.3,4).

Todas as outras fontes de autoridade são secundárias, como a razão, a tradição, as experiências e a teologia. Esta, inclusive, é o que os teólogos dizem das Escrituras. Não deve ser ela confundida com a Bíblia, que é a própria Palavra do Senhor.


Há algumas afirmações teológicas consagradas que precisam ser compreendidas à luz da Bíblia, a fim de que não se faça uma interpretação equivocada da sã doutrina. Neste segundo artigo da série em apreço apresentarei três assertivas bastante usuais e comuns em obras teológicas, mas que devem ser confrontadas com as Escrituras.

“O Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Trindade”

Essa afirmação baseia-se na pressuposição de que o Deus Pai é a primeira Pessoa da Trindade, o Deus Filho, a segunda, e o Espírito Santo, a terceira. Entretanto, o estudioso da Bíblia deve entender que tais títulos não refletem uma hierarquização. O Pai, o Filho e o Espírito formam um único Deus. Não existe triteísmo, e sim tripessoalidade.


Como não existe hierarquização entre as Pessoas divinas da Trindade, no Novo Testamento não há a preocupação dos autores sagrados em apresentar uma delas em primeiro plano sempre. Veja como elas se alternam: na fórmula batismal o Pai aparece primeiro (Mt 28.19). Em 2 Coríntios 3.3,4 e na bênção apostólica (2 Co 13.13), o Filho aparece primeiro. Mas observe que na primeira passagem de 2 Coríntios o Espírito aparece em segundo lugar, e na segunda, em terceiro. Em 1 Coríntios 12.4-6, a ordem é Espírito, Senhor (Deus Filho) e Deus Pai.

Portanto, as expressões teológicas “primeira, segunda e terceira Pessoas da Trindade” existem apenas para fins didáticos, e não para hierarquizar a Trindade.


“O nascimento do Senhor Jesus foi virginal”

O que ocorreu de modo virginal e também sobrenatural, na verdade, foi a concepção, a encarnação (1 Tm 3.16), e não o nascimento do Senhor. Não houve conjunção carnal — expressão do Direito — entre José e Maria, pais de Jesus, para que Ele fosse gerado no ventre de sua mãe. Ela ficou grávida pela ação direta do Espírito. Quanto ao nascimento, ele ocorreu de modo natural (Gl 4.4), e Maria, é evidente, não permaneceu virgem.

Por conseguinte, a expressão teológica “nascimento virginal de Jesus” alude à sua concepção; refere-se ao fato de que Maria ficou grávida sem que houvesse relação sexual entre ela e José, e não ao nascimento, em si.


“Jesus é 100% homem e 100% Deus”


Essa assertiva teológica também precisa ser vista à luz da Bíblia. Que Jesus é o Deus-Homem não se discute (1 Tm 2.5). Ele é Deus e é Homem. Entretanto, Ele é 100% divino — nunca deixou de ser Deus, ainda que tenha aberto mão de alguns dos atributos ao se encarnar (Fp 2.6-11; Hb 1.8) —, mas não é, biblicamente, 100% humano.

Observe que a Bíblia, em nenhum momento, afirma que o Senhor Jesus se fez igual aos homens. Não! Em Romanos 8.3, está escrito que “Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. Em Filipenses 2.7, vemos que Ele, ao aniquilar-se a si mesmo, fez-se semelhante aos homens. E, em Hebreus 2.17, está escrito: “Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos”.

Paradoxalmente, a afirmação teológica de que Jesus é 100% Homem se torna contraditória justamente em razão de Ele ser 100% Deus. Sendo Ele totalmente divino, jamais poderia ser idêntico aos homens.

Muitos filósofos não entendem como Jesus conseguiu vencer todas as tentações como Homem, pois, segundo eles, Ele jamais teria conseguido deixar de pecar por pensamentos. Mas aqui está a diferença entre o Homem Perfeito e os homens imperfeitos. Ele só foi tentado de fora para dentro. Não havia nEle o germe do pecado, visto que foi concebido por obra e graça do Espírito Santo. Quanto a nós, nascemos em pecado (Rm 3.23; Sl 51.5) e somos tentados a partir de nossa própria natureza caída (Tg 1.13,14).


Amém?

Ciro Sanches Zibordi

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